Na pandemia o dia que o produtor quase chorou

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A história do Frutas do Bosque e Laranja Lima

O ano da Pandemia foi importante na vida de todos humanos, incluindo a minha história profissional.

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Desde que entrei de cabeça no mundo do café tem sido anos de muita mudança e sempre desafiadores.

Muitas vezes grandes dificuldades e o ano de 2020 não foi diferente o pior de todos em sentidos gerais, aliás diversas vezes pensei em voltar a fotografia e ao design.

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Mas no começo da pandemia comecei a executar um sonho que me fez permanecer no mundo da terceira onda do café, o café especial.

Fiz meus planos para ter uma marca própria de cafés, não pela vaidade de um selo na embalagem criando a Hub Natural Cafés Brasileiros, mas por poder reunir alguns elos dessa cadeia de consumo, usando meu prazer em reunir pessoas em volta da mesa.

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Essas ações envolveram comprar nanolotes de café cru/café verde e torrar café como um louco, para obter respostas as minhas dúvidas das leituras de torra.

Das provas de café ao longo destes anos e para aproveitar o período de home office.

Possibilitado pela ausência de pessoas na torrefação que podia usar o equipamento devido a baixa de demanda na pandemia, fiz muitos cuppings das minhas torras.

A sobra de café em casa, me abriu outra possibilidade e oportunidade que aproveitei que foi de vender os cafés que estava torrando para uma cafeteria que abriu em meio a pandemia em Curitiba(@fugacafe).

Uma cafeteria de terceira onda, com um perfil de público estritamente de café especial e alternativo, é tocada por um barista muito querido e merece todo reconhecimento pelo empreendedorismo em meio a Pandemia da Covid-19.

Café é reunião

Se você me conhece sabe o quanto gosto de reunir meus amigos mais próximos em torno de uma mesa de refeição, e se tiver oportunidade, preparar um bom café contando sua história e do produtor.

No começo da pandemia conheci alguns produtores de café num grupo do qual faço parte. e alguns destes produtores tinham dúvidas sobre o mercado, se teriam saída caso conseguissem produzir cafés especiais.

Um caso desses é especial pra mim, que é o Gleisson Christo Romão e a companheira Sílvia, que optaram se mudar pra roça dos pais, primeiro para estar próximo do pai e para evitar riscos a saúde estando na cidade.

O sítio se chama Maria do Carmo em homenagem a mãe do produtor, ela deixou essa vida em 2018 e o sítio foi rebatizado para essa homenagem. O sítio foi adquirido pelo pai do Gleisson em 1955 após ter trabalhado por 5 anos como colono neste mesmo sítio.

Em comum o casal decidiu cuidar junto do pai da lavoura preparando para fazer café especial, mas nunca tinham feito isso antes, lá no Alto Rio da Cobra em Afonso Cláudio não é comum preparar especiais.

O casal indo contra as opiniões dos vizinhos, devido as dificuldades do microclima da região, insistiram em fazer pós colheita natural, se informaram de como fazer isso e iniciaram na cara e coragem.

Nosso primeiro contato direto via WhatsApp foi em agosto, quando ele me perguntou se seria interessante fazer a mistura dos cafés que ele estaria secando.

Foi quando pedi que deixasse separados e que se fosse natural eu me interessava em provar e comprar o café, mesmo que não conseguissem um especial de alta pontuação.

Os dias passam, as horas contam

A secagem do café é uma das etapas que pode colocar a cereja no bolo ou detonar a produção de café especial. E na região do Gleisson o grande desafio é concluir com sucesso a secagem dos cafés, pelo excesso de humidade e frio na época de secagem pós colheita.

Depois de uma safra boa, grãos colhidos seletivamente e cafés mexidos em camada fina por vários dias e estando os dias próximos a conclusão da secagem.

Logo pela manhã recebo uma ligação com uma voz quase embargada do Gleisson que não sabia o que fazer.

É que depois de uma noite e dias extremamente frios o café estava apresentando pequenos sinais de mofo na casca e o trabalho de muitos dias estavam sendo perdidos e a voz que ecoava pelo telefone era “bem que meu pai avisou que não daria”.

Vale lembrar que a família do Gleisson é experiente na produção de cafés na região, mas sem o hábito de cuidar dos cafés especiais.

As amizades contam

Foi aí que resolvi entrar em contato com outro produtor de uma região próxima e que enfrenta os mesmos desafios, mas já está fazendo pós colheita de qualidade há mais de 6 anos com cafés incríveis.

Prontamente o Theodoro Stein enviou um áudio tranquilizando e orientando como faríamos para não desperdiçar o trabalho de secagem feito até aquele dia.

A etapa foi reiniciada e ao final de mais vinte dias os cafés puderam ser provados e o sucesso veio com a persistência da Silva e Gleisson que obtiveram dois nanolotes com 86 e 87 pontos e bebidas excelentes.

E como eu havia me comprometido a pagar um ágio maior ao preço de mercado da região (clique e entenda como o Hub negocia café cru) adquiri o café e estamos trabalhamos o café na seleção manual para fazer a torra de modo que não se percam os sensoriais.

Batizei os cafés com características próximas ao que detectamos na análise sensorial.

O arábica Caturra Amarelo ficou extremamente doce como Laranja Lima e acidez leve, já o Catuaí Vermelho ficou com aspectos de bebida como de Frutas do Bosque.

Este último fez muito sucesso em uma cafeterias parceiras e muitas recompras em nosso e-commerce Hub Natural Cafés Brasileiros.

Perguntei ao Gleisson o porque não faziam antes o tratamento especial e este foi o relato dele:

“Não fazíamos antes por falta de conhecimento, acreditávamos que era muito difícil e eramos inseguros, e hoje sabemos que não é difícil, que como todas as coisas da vida requer dedicação”.

Espero que para a próxima safra em 2021 tenhamos esta grata surpresa novamente em nossos pacotinhos e grão cru para comercialização com cafeterias e torrefações parceiras.

Sítio Maria do Carmo, Afonso Claudio

Altitude: 1.100m
Safra 2020: de Junho a Setembro
Quantas Floradas por ano: 01 florada
Tamanho: 14 hectares
Total de Pés de Café: 7.000 pés de café
Safra de 2019: 25 sacas.
Safra de 2020: 30 sacas.
Quantas dessas sacas foram acima 85+: 86 kg em dois nanolotes